A minha memória me falha dos jeitos mais curiosos. Queria saber onde, pelos deuses, eu ouvi isso. Pode ter sido em algum vídeo de guru espiritual, ou em uma conversa com minhas amigas escritoras, ou na terapia. O importante é que essa frase específica ficou:
A comparação é uma morte.
Volto para ela sempre que me pego no meio desse assassinato. Pois não se engane, é um crime contra si mesmo. Comparar-se é pegar uma faca e enfiá-la na própria carne, seja para cortar fora os pedaços que você considera indesejáveis ou para levar a uma aniquilação total.
Hoje, estou gráfica. Não tenho a menor vontade de me desculpar por isso.
Tenho sido comida pelas beiradas por diversas frustrações nos últimos meses. A frustração é um desses sentimentos que precisam ser dissecados, mas que entalam na garganta e fazem a gente se engasgar na tentativa de traduzi-los.
A minha amiga Carol chegou a me mandar essa newsletter do Tira do Papel, na qual o Tiago reflete um pouco sobre a ilusão que as redes sociais criam de que está todo mundo tendo uma vida muito melhor do que a gente. Ele pergunta ao leitor por fim se há uma forma mais saudável de digerir essas informações que elas nos trazem. Se Tiago não tem uma resposta para isso, eu tenho menos ainda.
Afinal, o mercado literário tem métricas. Vendas, avaliações, seguidores. Números, belos ou horríveis. E, apesar do escritor ao lado não ser nossa competição (e não é mesmo), fica muito mais difícil evitar a questão: o que fulano tem que falta em mim?
A resposta costuma ser dinheiro, porém deixo apenas aqui a minha reclamação sobre a crueldade do mundo capitalista.
Pouquíssimas pessoas conseguem viver da própria escrita. Contudo, mesmo depois de aceitar esse fato, ainda é difícil se deparar com os números ao redor. Para usar um clichê: a grama do vizinho sempre parece mais verde.
Vi em algum lugar (memória, por que me falhas?) que a grama é mais verde onde se rega. Parece piada quando estamos, sim, regando nossa grama e nos esforçando horrores, só que tudo parece ser em vão.
É aqui que a comparação nos mata; tal qual o assassino em série de um filme slasher que mata suas vítimas a facadas (Psicose ou Pânico, fique à vontade para escolher). O primeiro golpe é na nossa autoestima. O segundo na nossa vontade de persistir. O terceiro, mais fatal, é no nosso potencial.
Porque é essa a injustiça que cometemos conosco ao nos comparar. Esquecemos os nossos próprios desejos para cobiçar os dos outros. Assim, nós deixamos de lado quem somos de verdade, estrangulamos aquilo de autêntico que temos. Ao nos compararmos, matamos quem poderíamos ser.
Eu quero me permitir respirar. Ser eu mesma, seja lá quem for. Penso nisso e tiro a máscara, largo a faca (escolhi o Ghostface do Pânico). Prefiro que me vejam como sou, com ou sem brilho, nas qualidades ou nos defeitos. Se eu estiver condenada a falar somente com as paredes, acredito que, pelo menos elas, merecem papear com alguém verdadeiro. E vocês? Como preferem ser vistos?
O NaNoWriMo
Para quem nunca ouviu falar desse desafio, deixo aqui um post da
explicando o que ele é. Ela é a maior defensora dessa jornada e a coloca em palavras muito melhor do que eu.Em Setembro, eu trabalhei intensivamente em um projeto meu (ainda secreto, mas tão tanto assim). Por isso, não devo encarar as 50k palavras do NaNoWriMo oficial, porém quero tentar participar com uma noveleta spin off de Noites de Insônia. Espero que dê certo.
É um ótimo momento para deixar as comparações de lado, assim como o perfeccionismo, e se unir aos seus amigos que também escrevem. Então, não deixem de conferir!
Sobre a versão física de Noites de Insônia
Ela vai sair ainda este ano! Se tudo der certo, neste belo mês de Novembro!
Eu recebi a segunda versão de teste, o famoso boneco como dizem no mercado literário. Pelo que pude ver, está quase tudo nos conformes, então estou bem feliz.
Vou inclusive mandar uma newsletter explicando como a plataforma da UICLAP funciona, além de anunciar, é claro, que Noites de Insônia está pronto para chegar na sua estante. Lembrando que o livro já pode ir para o seu Kindle quando você quiser 😉


E, para honrar o que eu disse sobre outros escritores não serem competição, deixo aqui uma lista de algumas newsletters inspiradoras e que eu gosto muito de acompanhar:
Carolices, da minha amiga Carol Sena, já que eu a mencionei hoje
O gato escritor, da Gabriela Teixeira
Tristezas de estimação, da Fabiane Guimarães
Querido clássico (sim, da mesma equipe do site)
Estufa artística, do Rafael Isidoro
Plot persuits, da Debs Costa (é em pt-br, não se engane pelo nome)
Às vezes eu falo, da Fernanda Castro
Tem muitas outras, porém considero sete um número da sorte. Outro dia trago mais algumas para vocês, está certo?
Por hoje é só!
Espero que tenham gostado, pensei em mencionar Misery do Stephen King nesta news, pois o protagonista é um escritor frustrado. Decidi não fazer isso porque o livro fala muito mais sobre bloqueio criativo e outras coisas.
Mesmo assim, recomendo a leitura para quem curte horror e metalinguagem. Livros falando sobre livros, sabe como é.
Obrigada a quem continua nesta aventura comigo.
Até a próxima!
Eu adorei esse texto. Se comparar é inevitável e também difícil de contornar. Ultimamente também tô tentando isso, espero que a gente consiga aliviar essa pressão.